junho 19, 2015

Lare Figueiredo: Eu nunca fui o tipo de menina ideal



Eu nunca fui o tipo de menina ideal. Quando criança era por vez feminina demais, por outra masculina demais. No mesmo tempo que sonhava em ser uma princesa da Disney, queria ser uma guerreira Jedi.

Quando tinha por volta de 8 anos, existiam garotos que não gostavam de mim na escola, eles viviam inventando apelidos para mim, com meu sobrenome,  aparência física... E enquanto lanchava jogavam areia em mim e no meu lanche... Eu não deixava por isso, como uma boa guerreira Jedi começava as famosas "lutinhas", mas eram razoáveis, um contra um... Mas em um dia, no fim do período, minha mãe estava demorando demais para me buscar, e eu já achava que ela não viria, e sai da escola, sozinha. Foi só atravessar a rua que três dos garotos que não gostavam de mim, vieram para me bater, eu não me recordo muito bem, só lembro deles me rodeando e dando alguns chutes, mas - acredito que posso chamar de sorte - alguns garotos mais velhos me ajudaram e "espantaram" eles.

Um pouco mais velha, já com 11 anos, era aluna nova e não era o tipo de colega que agradava a todos, na verdade, eu era o tipo que não agradava grande maioria. Não entendia o porquê, talvez o meu jeito não era dos mais agradáveis, ou isso se devia ao fato de eu ter entrado em uma sala onde todos já conviviam desde muito pequenos... Tinha um ano que eu estava frequentando essa escola, e aconteceram casos desagradáveis, cometi erros, e as pessoas começaram a inventar apelidos para mim, eu andava nos corredores e ouvia o cochichar, não se referiam a mim através do meu nome, e sim por um apelido em especial. Até meus 13 anos eu não falava com 75% da turma, e não foi por falta de tentativas, eu era ignorada, completamente, eu ficava muitas vezes em um canto da sala, chorando.

Infelizmente, o sofrimento que causa o preconceito não é sentindo apenas na hora do acontecimento. Eu me odiava, odiava meu jeito de ser, odiava minhas pernas, odiava meu corpo. Com 14 anos eu desenvolvi bulimia - não é fácil falar sobre isso -, houve dias que em duas horas eu havia vomitado cinco vezes, cheguei a um ponto que até água eu queria "jogar fora", ao mesmo tempo que era horrível, era bom para mim, me sentia limpa, leve... Mas, não parou por ai, eu comecei a desenvolver a Ana (apelido que algumas meninas dão para a anorexia) - ter anorexia é diferente de ser anoréxica -. Eu comecei a contar as calorias de tudo o que comia, comecei a fazer dietas malucas, a passar horas, dias e até uma semana sem comer nada sólido, apenas líquidos, como chás e água, comecei a tomar remédios perigosos, que me deixavam tonta, me faziam vomitar, cortavam meu apetite e aceleravam meu metabolismo. Eu emagreci cerca de 12kg em pouco tempo, mas eu vivia em uma constante, eu emagrecia, tinha compulsão (comer descontroladamente sem conseguir evitar) engordava. A Mia (apelido para bulimia) vivia na minha mente, "come isso, não tem problema, depois você joga fora, olha, é delicioso", - parece estranho, e de fato é, mas nosso psicológico faz coisas que não conseguimos compreender -, eu comia, mas não tinha a mesma facilidade para forçar o vomito, então eu parti para os laxantes, e muitas vezes para a água morna com sal, era horrível, me deixava com sensação de desmaio e eu quase jogava meu estomago todo para fora. Quando você tem transtorno alimentar, isso não passa a interferir somente na sua alimentação, mas completamente no seu psicológico, você se odeia por ter feito isso, odeia por não ter conseguido fazer aquilo, e tudo que acontece a sua volta é porque você não é magra o suficiente...

Chega uma hora que você percebe que tudo isso que você faz só te prejudica... Que mais para frente tudo isso, pode te impedir no sonho de ser mãe, que se Deus brilha em você, demônios não podem habitar em seu ser.

Eu aprendi da pior forma possível, que eu sou o espelho que reflete a minha própria essência, que meu jeito é único, e que nunca vamos conseguir agradar a todos, pois o mundo está cheio de pessoas invejosas e que fazem o mal, mesmo que, por vez, sem intenção.

Lare Figueiredo

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